11 Em dia subsequente, dirigia-se
Jesus a uma cidade chamada Naim, e iam com ele os seus discípulos e numerosa
multidão.
12 Como se aproximasse da porta da
cidade, eis que saía o enterro do filho único de uma viúva; e grande multidão
da cidade ia com ela.
13 Vendo-a, o Senhor se compadeceu
dela e lhe disse: Não chores!
14 Chegando-se, tocou o esquife e,
parando os que o conduziam, disse: Jovem, eu te mando: levanta-te!
15 Sentou-se o que estivera morto e
passou a falar; e Jesus o restituiu a sua mãe.
16 Todos ficaram possuídos de temor e
glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós; e: Deus
visitou o seu povo.
17 Esta notícia a respeito dele
divulgou-se por toda a Judéia e por toda a circunvizinhança.
Jesus Se dirigia para a cidade de
Naim.
Naim ficava a cerca de 40 km de
Cafarnaum - pelo menos um dia de viagem - e, no entanto, Jesus foi até lá sem
ninguém ter pedido que o
fizesse. Uma vez que os judeus sepultavam seus mortos no mesmo dia em que
faleciam (Dt 21:23; At 5:5-10), é bem provável que Jesus e seus discípulos
tenham chegado às portas da cidade no final do dia em que o menino faleceu.
Podemos observar ..quatro encontros
específicos.., ocorridos às portas da cidade de
Naim naquele dia.
1 - O Encontro de Duas Multidões
Jesus estava sendo seguido por uma
multidão e se encontra com outra multidão. Um cortejo fúnebre está saindo; sai
pela porta da cidade devido ao fato de que não se permitia enterrar a um morto
dentro de uma cidade judaica. Era a procissão de um funeral que se dirigia ao
local de sepultamento.
Nada acontece por acaso. Aqui vemos a
providência de Deus e a sabedoria de Jesus que já previa tudo o que haveria de
acontecer, de acordo com o plano divino, para aquele dia. Sim, aquele encontro
não era por coincidência, mas, sim, por providência. Por providência divina,
Jesus chega no exato momento em que havia uma necessidade de vida ou morte!
Ao obedecer à vontade do Pai, Jesus
vivia de acordo com um cronograma divino (Jo 11:9; 13:1). Todas as coisas que
Jesus realizava, todos os encontros que tinha não eram fruto de uma mera
coincidência, mas eram ações já predeterminadas, com um grande propósito em
vista, que produzia resultados fantásticos.
O nosso compassivo Salvador sempre
nos ajuda quando mais precisamos (Hb 4:16), nas horas mais surpreendentes.
Muitas vezes estamos desesperados, sem saber mais o que fazer, e daí, eis que
acontece algo que parece mero acaso; no entanto, é mais uma das múltiplas
providências divinas que vem em nosso auxílio no exato momento em que mais
necessitamos.
Que contraste entre a multidão que
seguia Jesus e a multidão que seguia a viúva e seu filho morto! A multidão que
estava com Jesus era composta de pessoas que se alegravam diante das palavras e
dos feitos extraordinários de Jesus. A outra multidão se entristecia e chorava
mais e mais à medida em que se aproximavam do cemitério. Afinal, era apenas um
jovem aquele que estava sendo conduzido para o cemitério. Um jovem na flor da
idade, com muitos projetos de vida, agora interrompidos pelo alfanje da morte.
Eles estavam chorando a morte de um jovem que fora o objeto das mais suspiradas
esperanças de sua mãe agora desesperada.
Jesus dirigia-se à cidade, enquanto
os pranteadores dirigiam-se ao cemitério. Em termos espirituais, cada um de nós
se encontra em um desses dois grupos. Ou estamos indo para a cidade ou indo
para o cemitério. Se crermos em Cristo, estamos indo para a cidade celestial
(Hb 11:10, 13-16; 12:22). Se estamos "mortos nos nossos pecados", já
estamos no cemitério e sob a condenação de Deus (Jo 3:36; Ef 2: 1-3).
Precisamos crer em Jesus Cristo e ser ressuscitados dentre os mortos (Jo 5:24;
Ef 2:4-10).
Agora, pare e pense: Para onde você
está indo? Certa vez, eu fiz uma visita a uma família, e encontrei alguns
jovens, umas moças e um rapaz. Durante a visita introduzi o evangelho, e depois
de algumas considerações procurando ganhar aqueles jovens para Cristo, o jovem
disse: “Sabe o que é, pastor? Eu gosto mesmo é de pornografia. Acho muito
legal, bonito...” Quando ele parou de falar, eu lhe disse, olhando nos seus
olhos: “Sabe o que é, jovem? Eu só tenho uma pergunta para você me responder:
Para onde você está indo? Aonde você vai chegar andando nesse caminho? Ou você
vai para a cidade de Deus ou vai direto para o inferno!” O jovem, que até ali
era muito falador, loquaz, extrovertido, exibindo-se diante das moças, ficou
pensativo e mudo. Esta é a grande questão: Para onde estamos de fato indo? Não
temos um meio termo: ou vamos para a cidade, ou para o cemitério,
definitivamente!
2 - O Encontro de Dois “Filhos
únicos”.
Um estava vivo, mas destinado a
morrer, o outro estava morto, mas destinado a viver. Um era o filho único
morto; o Outro o era o Filho Único vivo, que era a própria Fonte da vida, o
nosso Senhor Jesus Cristo, que estava para morrer numa infamante cruz, a fim de
que nós pudéssemos viver.
O filho da viúva era “único” no
sentido de filho “único gerado”, e isto significa que era unigênito, em nosso
idioma, porque não tinha irmãos. Mas a palavra grega significa apenas “único”,
para ressaltar o fato trágico daquela mãe que perdia o que tinha de mais
precioso.
Mas em Jesus Cristo a designação de
“Único” também não significa “único gerado”, (é a mesma palavra no grego:
monogenês) porque embora Ele foi gerado de Maria, pelo Espírito Santo, só a
parte humana de Jesus é que foi gerada. Aplicado a Cristo, o título “único” significa "singular",
“especial”, “ímpar” “exclusivo” ou "inigualável". Cristo não é um
"filho" no mesmo sentido que eu sou, pois vim a existir pela
concepção e nascimento. Mas Cristo sempre existiu; Ele nunca foi gerado como
Deus; Ele mesmo é Deus.
Em algumas passagens de João,
encontra-se a expressão “unigênito” (monogenês) referente a Cristo. Mas a
palavra que foi traduzida assim do original, é a mesma que encontramos aqui em
nosso texto (Lc 7:12). Portanto, para sermos coerentes, em João 3:16 (como em
Jo 1:14,18; 3:18; 1Jo 4:9), a tradução deveria ser “Único”, e não unigênito.
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Único...” O título Filho Único de Deusdeclara a
natureza divina de Cristo e seu relacionamento perfeito com o Pai.
O encontro dos dois filhos únicos
ficou marcado na história do evangelho de Lucas, exclusivamente, para que
soubéssemos que há um poder onipotente no Filho Único de Deus, a ponto de até
ressuscitar um jovem que tombara vencido pela morte. Deveria ficar assim
evidente para todos que o Filho de Deus é o único que tem esse poder.
3 - O Encontro de Dois Sofredores
O profeta Isaías fala de Jesus como o
“Homem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53:3). Ele descreve a angústia
que teve Jesus ao suportar a Cruz para nos salvar, e dar a vida em resgate por
nós. De fato, a vida inteira de Jesus foi de muitos pesares, angústias e
sofrimentos. Logo que nasceu, teve que fugir de Herodes que queria vê-lO morto,
e O perseguiu para matá-lO.
Os Seus irmãos duvidaram dEle.
Satanás O perseguia com muitas tentações continuamente. Os fariseus e doutores
da lei estavam sempre no Seu encalço, a fim de conseguir achar alguma falha em
Seu caráter. Mas Ele ainda tinha a preocupação de levar sobre Si mesmo o peso
da salvação da humanidade.
De fato, Jesus Cristo foi o Homem que
mais sofreu neste mundo. Jamais seremos chamados a sofrer tanto quanto Ele
sofreu. Por isso, ninguém pode acusar a Deus dizendo que Ele é injusto em
deixar-nos em nossos sofrimentos. O que sofremos é um mínimo em comparação com
o que Ele sofreu através da entrega do Seu Filho amado para morrer numa
infamante Cruz.
E lá estava aquela mãe inconsolável
porque perdera o seu filho único. Era difícil consolar a uma mulher nesta
situação desesperadora. Ora, já é terrível perder um dos filhos, de uma família
numerosa. Mas muito pior é perder um filho único. Mas pior do que perder o filho
único, é perder o filho único sendo viúva. Não apenas estava aflita como também
se encontrava sozinha numa sociedade sem recursos para cuidar de viúvas.
E aquela mulher agora se desesperava
diante da morte do seu filho único, que era a sua única esperança de arrimo e
felicidade para o futuro. Com a morte do seu filho único, a última fonte de
sustento e proteção desta mulher se fora; e a esperança de perpetuar a
descendência se desvanecera. O que seria feito dela? Sua condição era realmente
trágica.
Mas Jesus, o "homem de
dores", Se encontrou com essa mulher sofredora para mudar a sua situação.
Ele não teve dificuldade para Se identificar com o sofrimento da viúva. Sabia
de todas as suas aflições e temores. Podia ajudar-lhe agora com a Sua compaixão
e Seu poder de ressuscitar o filho morto.
Jesus Cristo sabe de todas as nossas
dores e pode nos ajudar ainda mesmo sem estar presente em pessoa. Ele prometeu
enviar-nos o Espírito Santo que é o nosso Consolador e que traz a Cristo em
nosso coração, a fim de confortar-nos em nossas angústias, dando-nos a certeza
de Sua presença e poder para desfazer as obras de Satanás, e recuperar-nos em
Sua comunhão.
4 - O Encontro de Dois Inimigos
Jesus enfrentou a morte, "o
último inimigo" (1Co 15:26). Quando pensamos na dor e tristeza que a morte
causa a este mundo, de fato é um inimigo terrível, e somente Jesus Cristo é
capaz de nos dar a vitória (1 Co 15:51-58; Hb 2:14, 15).
Vendo Jesus a mulher, Se compadeceu
dela, que fora alvo desse inimigo, a morte, por duas vezes.
.. 1 – Jesus não Se
compadeceu do jovem morto ..
Por quê? Porque:
- os
mortos não sabem que estão mortos
- os
mortos não sabem que os vivos estão chorando por eles
- os
mortos não estão sofrendo
- os
mortos não tem noção do tempo e do espaço
- eles
não sabem nada, porque estão em completo estado de inconsciência (Ecl 9:5-6)
- não
precisam de orações, não precisam de orientação, não carecem de consolação.
Milhões estão enganados sobre a
doutrina dos mortos, e é bom que nós estejamos de sobreaviso. Paulo disse que
não devemos ser “ignorantes com respeito aos que dormem” (1Ts 4:13), porque os
mortos dormem o sono inconsciente da morte (Sl 13:3; 6:5). Você sabe dar um
estudo bíblico sobre os mortos? Milhões de pessoas, enganadas pelas falsas
doutrinas do espiritismo, do paganismo, do catolicismo e do protestantismo
apostatado, crêem que os mortos estão vivos.
Milhões crêem que os mortos estão
vagando no espaço sideral, esperando para reencarnar em alguma pessoa que
nasce. Outros dizem que os mortos estão no Céu ou no Inferno, ou no Purgatório
ou no Limbo [local de purificação para os infantes]. Quando Jesus ressuscitou
ao jovem, Ele não o chamou de nenhum desses lugares. Ele o chamou do lugar onde
ele dormia o sono tranquilo da morte, ali mesmo sendo levado num leito, envolto
em lençol.
Por isso, Jesus não Se compadeceu do
jovem morto: ele não podia saber nem reagir diante de uma consolação.
.. 2 – Jesus Se
compadeceu da mãe do jovem morto...
Ela era viúva e já sofrera, portanto,
a dor da morte do seu marido. De fato, aquela mulher era muito sofrida, muito
nervosa, muito angustiada e muito insegura. Pesquisas têm sido feitas sobre o
grau de estresse de uma pessoa, que passa por diferentes perplexidades. Mas a
perda do marido, ou da esposa, a perda do cônjuge é de maior gravidade do que
qualquer outra perda. E muito mais no tempo de Jesus quando as mulheres viúvas
não tinham nenhuma segurança.
Mas depois de tudo o que sofrera com
a morte do marido, que lhe deixara um filho, agora, ela perde esse filho amado,
pela morte. Aquela mulher havia cifrado no seu filho único todas as suas mais
acariciadas esperanças. Mas agora, ela estava desesperada, sem nenhuma
esperança.
Jesus Se compadece dos que perderam
os seus entes queridos. Conhece toda a angústia, toda a tristeza, toda a
solidão, e talvez toda a revolta desses sofredores. Mas Jesus Cristo é o maior
Consolador dos aflitos.
Então, Jesus disse à mulher: “Não
chore!” Este era o imperativo da esperança. A maior consolação de Jesus para os
enlutados é: “Não chore!” porque há uma esperança. Você nunca deve perder a
esperança. A morte não é o fim. Há esperança até para mortos: a gloriosa
esperança da ressurreição. Portanto, diz Jesus: “Não chore!” em desespero!
O "esquife" referente no texto
era, provavelmente, uma espécie de maca aberta, não um caixão fechado, de
madeira, como em nossos tempos. Jesus Se aproximou, e “tocou o esquife”.
Mas por quê? Havia algum significado nesse ato? Aparentemente, era natural que
tocasse no caixão, na maca aberta, como acontece quando vamos a um velório, e
ao nos aproximar, tocamos no caixão, mesmo não intencionalmente, mas ninguém
vai notar nisso.
Entretanto, no tempo de Jesus, era
diferente. Se alguém tocasse num morto, ou no seu féretro, ele seria considerado
imundo (Nm 9:6). Mas nesse ato de tocar no esquife, Jesus estava demonstrando
que Ele não Se contamina, Ele não teme o contágio, ao lidar com o Seu grande
inimigo, a morte.
Jesus só precisou proferir uma
palavra e o menino voltou à vida com saúde. Vemos aqui o poder da palavra de
Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Ele apenas ordenou: “Jovem, Levanta-te!” e o
menino se levantou com vida. Assim foi na Criação: Ele falou e tudo se fez, ele
ordenou e tudo passou a existir (Sal 33:6,9). Ele deu vida a todos os seres que
têm vida. Ele deu vida a todos os animais por meio de uma palavra. Apenas falou
e todos viveram. Agora, do mesmo jeito, Ele falou e o morto se levantou com
vida e saúde.
O menino deu dois sinais de vida:
sentou-se e falou. O texto não diz o que falou, mas devem ter sido palavras
interessantes! Ele pode ter dito algo assim: “O que é que eu estou fazendo
aqui? Mãe, por que todos estão chorando?” Num gesto de grande ternura, Jesus
pegou o menino e o entregou à mãe, agora transbordando de alegria.
Toda a cena lembra o que acontecerá
quando Cristo voltar e reencontrarmos nossos entes queridos. Aquele será um Dia
de exultante glória e grande alegria, ao vermos todos os justos, e os nossos
queridos salvos sendo levantados para a vida eterna.
O povo reagiu glorificando a Deus e
identificando Jesus com o Profeta dos judeus pelo qual haviam esperado tanto
tempo (Dt 18:15; Jo 1:21; At 3:22, 23). Não demorou que a notícia desse milagre
se espalhasse. As pessoas animaram-se ainda mais para ver Jesus, e grandes
multidões o seguiam (Lc 8:4, 19, 42).
O encontro dos dois inimigos ficou
registrado para que soubéssemos que Jesus Cristo é o Vencedor de todos os Seus
inimigos, e em breve há de declarar a vitória final sobre a morte, “o último
inimigo a ser destruído”.
Lições práticas
1. Jesus é o nosso Consolador nas horas
mais difíceis. Ele nos conhece e Se compadece de nossas aflições. Portanto,
devemos sempre confiar nEle.
2. Não devemos temer nada neste mundo;
nem mesmo a morte. Devemos ser calmos, serenos e tranquilos em toda e qualquer
situação.
3. Jesus tem poder onipotente. Portanto,
devemos depender dEle completamente porque é o Único em quem podemos confiar
plenamente, sem nunca sermos decepcionados.
4. Não podemos depositar a nossa última
esperança nos nossos entes queridos. Nossa maior esperança deve estar
depositada em Jesus Cristo que é o nosso poderoso Deus e Autor da nossa vida
eternamente.
Pr. Roberto Biagini
Mestrado em
Teologia
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